Quando falamos em barroco, logo vem à mente a imagem das igrejas coloniais ricamente decoradas. No entanto, o estilo, que surgiu e se popularizou na Europa durante os séculos XVII e XVIII, alcançou todas as artes e a música não é uma exceção. Hoje em dia, a música barroca continua viva e sendo celebrada na França e mesmo aqui no Brasil, através de instituições e projetos como o Centre de Musique Baroque de Versailles e a Orquestra Barroca da UNIRIO.
A música barroca engloba a produção musical europeia durante o período que vai de 1600 a 1750, e para quem não tem intimidade com o estilo, ela pode se parecer muito com outros estilos de música clássica. Apesar de ter em comum a complexidade melódica e o uso das inovações musicais que surgiram nessa época, a música barroca é também extremamente rica e diversa, com variações entre os diferentes países, compositores e períodos. As inovações que surgiram no período barroco foram fundamentais para a consolidação da música clássica, e cimentaram o caminho da música instrumental, já que foi nessa época que surgiram peças musicais estritamente instrumentais como a sonata e o concerto.
A França foi um dos berços de seu nascimento, e muitos dos mais conhecidos compositores barrocos são franceses: Jean-Baptiste Lully, Jean-Philippe Rameau, François Couperin, entre outros. O barroco francês se popularizou por toda a Europa, mas após a Revolução Francesa, caiu no esquecimento. Apenas na segunda metade do século XX o estilo e suas características foram retomados por nomes da música clássica, até que em 1987 foi fundado o Centre de Musique Baroque de Versailles (Centro de Música Barroca de Versalhes, ou CMBV) com a missão de promover o repertório barroco e a formação de músicos em todo o mundo. Localizado no Hôtel des Menus-Plaisirs, edifício construído pelo rei Louis XV para abrigar os ateliês de materiais utilizados nos divertimentos da corte, o CMBV lidera o renascimento da música barroca francesa em um dos locais mais emblemáticos do gênero.

O diretor artístico do CMBV, Benoît Dratiwicki ao violoncelo, e ao seu lado direito Silvana Scarinci na teorba
Os ecos da música barroca também atravessaram o Atlântico para chegar ao Brasil. Há 20 anos, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) mantém uma Orquestra Barroca (OBU), projeto de extensão com alunos de graduação em música e coordenado pela flautista Laura Rónai. Apesar de suas muitas similaridades com uma orquestra clássica, há também muitas diferenças. Uma delas são os instrumentos de sua formação, muitos que não são mais amplamente utilizados fora do contexto barroco. Na época que o piano ainda não existia, a grande estrela da orquestra era seu precursor: o cravo. Muito parecido com o piano, o cravo é instrumento de cordas pinçadas, o que cria seu som peculiar. Além do cravo, havia também diversos tipos de violinos com sonoridades distintas e instrumentos de corda como o alaúde e a teorba, entre outros.
Cerca de 6 anos atrás, foi iniciada a parceria entre a OBU e o CMBV para promover a formação e a profissionalização dos músicos brasileiros através do intercâmbio com músicos e professores do CMBV. Assim surgiu a Semana de Música Barroca, projeto que reúne no Rio de Janeiro os músicos dessas duas instituições e convidados nacionais e internacionais para aulas, masterclass, conferências e concertos. A Aliança Francesa se tornou parceira do projeto em 2018, apoiando a execução dos concertos na Sala Cecília Meireles e promovendo encontros e aulas em suas instalações.
A parceria entre as instituições também deu origem a um projeto de intercâmbio cultural: um integrante da orquestra seria selecionado para um período de estudos na França com o CMBV, ganhando também uma bolsa de estudos de um ano na Aliança Francesa para se preparar para sua estadia na França. O primeiro contemplado, Gabriel Ferrante, aluno do bacharelado em flauta da UNIRIO, estudou conosco durante todo o ano de 2019 e realizou seu intercâmbio no início desse ano. Confira no vídeo abaixo um pouco mais de sua experiência com o projeto:
Em 2019, essa parceria foi ampliada com a criação de um segundo evento em abril, o Ciclo de Música Barroca da Aliança Francesa, que reuniu masterclass e conferência de Benoît Dratiwicki, diretor artístico do CMBV, e um concerto com solistas da OBU no auditório da AF Botafogo. Em outubro, a 5ª Semana de Música Barroca contou novamente com o apoio da Aliança Francesa e, através de sua parceria com o Museu Nacional de Belas Artes, promoveu um concerto especial e gratuito no Salão Nobre do MNBA, além do já clássico concerto na Sala Cecília Meireles.
O ano de 2019 realmente foi de destaque para a Música Barroca no Rio, contando ainda com o festival Baroque In Rio, organizado pela produtora Musica Brasilis. O festival ocupou locais históricos do Rio de Janeiro com obras de compositores barrocos em espetáculos apresentados pelos melhores músicos franceses e brasileiros, como o cravista Olivier Baumont e o violinista Julien Chauvin, que também ofereceram masterclasses realizadas na AF Botafogo.
A 6ª Semana de Música Barroca está programada para acontecer no mês de outubro de 2020, mas enquanto isso, você pode se maravilhar com o repertório barroco com os concertos no Festival Baroque in Rio 2019:
Crédito das fotos: Vitor Jorge